
SAIBA MAIS
A partir do ano que vem os
meninos vão ser incluídos na campanha de vacinação contra o HPV, segundo
Ministério da Saúde
A partir do ano que vem os
meninos vão ser incluídos na campanha de vacinação contra o HPV, segundo
Ministério da Saúde
Segundo o ministério da Saúde, a
medida faz do Brasil o primeiro país da América do Sul e o sétimo do mundo a
incluir meninos em um programa nacional de imunização de HPV.
Subtipos do vírus estão
relacionados a quase todos os casos de cânceres no colo útero, o que explica o
foco inicial no sexo feminino. No entanto, ainda que em números menores e sem o
mesmo nível de divulgação, o vírus está também relacionado a cânceres como o de
pênis, ânus e boca, tornando necessária a imunização de ambos os sexos.
A BBC Brasil apresenta abaixo
respostas para algumas das dúvidas mais comuns relacionadas ao vírus e à
vacinação.
O VÍRUS E AS DOENÇAS
O que exatamente é o HPV?
É o vírus do papiloma humano (ou
HPV, da sigla em inglês human papiloma virus ). A palavra papiloma faz
referências às típicas, porém nem sempre encontradas, verrugas que resultam da
infeção por tipos específicos do vírus. Há mais de 200 subtipos. Desse total,
mais de 40 são facilmente transmitidos pela via sexual, com o contato direto da
pele ou de uma mucosa infectada. Esse contato pode ser genital-genital,
oral-genital ou manual-genital. Entre eles, cerca de 12 são considerados de
alto risco e podem causar câncer. Os subtipos 16 e 18, por exemplo, são
responsáveis pela maioria dos casos de câncer relacionados ao HPV. Já os tipos
6 e 11, responsáveis por 90% das verrugas em regiões de mucosas, genitais e
ânus, não estão relacionados ao câncer.
Quantas pessoas têm HPV?
O HPV é o vírus sexualmente
trasmissível mais comum. Cerca de 50% dos homens e mulheres sexualmente ativos
nos Estados Unidos, por exemplo, já contraíram o vírus em algum momento da
vida. Na maioria do casos (cerca de 90%), o sistema imunológico consegue
derrotar o vírus no período de dois anos. Nesse período, no entanto, a maior
parte das pessoas não desenvolve sintomas, não sabe que é portadora e pode
infectar parceiros. Além disso, é possível que a pessoa só desenvolva os
sintomas anos após ter tido contato com alguém infectado, tornado-se difícil a
tarefa de determinar quando ocorreu a infecção.
Que tipo de doenças o HPV causa?
"Tanto em mulheres quanto em
homens, ele pode causar problemas como verrugas genitais, que são mais fáceis
de tratar, até doenças potencialmente gravíssimas, como o câncer do colo de
útero", explica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações (SBIm).
O HPV pode provocar também lesões
pré-cancerosas, ou seja, lesões que podem se transformar em um câncer.
No entanto, contrair o HPV -
mesmo os subtipos considerados de alto risco- não significa um câncer quase
certo. Segundo o site do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, a
maior parte das infecções por HPV ocorre sem apresentar qualquer sintoma.
Algumas, no entanto, persistem por muitos anos. E infecções persistentes com
subtipos de alto risco do HPV levam a mudanças nas células que, sem tratamento,
podem causar câncer.
Quais tipos de câncer o HPV pode
causar?
Nas mulheres, o vírus é
responsável por praticamente todos os casos de câncer do colo do útero, o
terceiro mais incidente entre as mulheres brasileiras, atrás dos tumores de
mama e intestino. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2016,
surgirão 16 mil novos casos desse tipo de câncer no Brasil e haverá 5,4 mil
mortes.
O HPV pode causar ainda o câncer
vaginal e na vulva
Tanto em homens quanto em
mulheres, o HPV também está associado ao surgimento de câncer anal e também de
tumor na boca (6º tipo de câncer mais comum do mundo, com 230 mil mortes todos
os anos). Já exclusivamente nos homens, o vírus pode provocar câncer no pênis.
A VACINA
Que idade é o público alvo da
vacina?
A partir de janeiro de 2017, o governo
vai oferecer a vacina também para meninos de 12 e 13 anos pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). Já a vacina dada às meninas tem como público alvo as que têm entre
9 e 13 anos. O plano é ampliar a faixa etária gradativamente até que, em 2020,
a vacinação seja oferecida a meninos dos 9 aos 13 anos, como já ocorre com
meninas desde 2014.
Por que vacinar nessa
faixa-etária, já que não têm relação sexual ainda?
O objetivo é proteger as crianças
antes do início da vida sexual e, portanto, antes de serem expostas ao vírus.
"A vacina é eficaz para
todos. Mas é claro que para os que são sexualmente ativos a efetividade é menor
por uma questão: os jovens que já iniciaram a vida sexual podem ter tido
contato com o vírus antes de se vacinar", afirma Isabella.
"Do ponto de vista de saúde
pública, quanto mais precocemente se der a vacina, maior o impacto, tanto em
meninas como em meninos. Vacinando quem ainda não teve relação, evitamos ter
tantas dessas lesões (pré-malignas). Vacinar precocemente é válido tanto para
imunizá-los antes que se infecte, mas também porque sabemos que quanto mais
novo, mais robusta é a resposta à vacina."
Adolescentes já contaminados pelo
HPV também se beneficiam da vacina, porque ele provavelmente não se infectou
com todos os tipos de vírus - assim, a imunização o protege de vírus que ele
ainda não encontrou em contato. Além disso, a chance de novas ocorrências de
lesões pelo HPV diminui com a vacina.
Já os adultos não vacinados podem
se beneficiar dessa imunização também. No entanto ela não é oferecida na rede
pública, já que o SUS dá preferência aos grupos prioritários, no caso, crianças
e adolescentes.
Como é e como age a vacina?
Tanto meninos quanto meninas
tomam a vacina quadrivalente, que oferece proteção contra quatro subtipos do
HPV (6, 11, 16 e 18) com um índice de 98% de eficácia, segundo o governo.
Os subtipos 6 e 11 são ligados ao
surgimento de 90% das verrugas na região genital e anal. Já o 16 e o 18 foram
relacionados a 70% dos casos de câncer do colo do útero, também são responsáveis
por cerca de 80% dos cânceres de ânus e 50% dos casos de câncer de vagina,
vulva, pênis e sistema orofaringe.
Como outras vacinas, esta
estimula a produção de anticorpos específicos para certos tipos de HPV. É dada
por meio de injeção, com duas doses, separadas entre si por seis meses de
intervalo. "Essa segunda dose é fundamental para a efetividade da vacina.
A primeira estimula o sistema imunológico, mas a segunda é necessária para
atingirmos a proteção que queremos", diz Luciana Rodrigues Silva,
presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
MENINOS TAMBÉM
Por que o governo brasileiro
decidiu ampliar essa imunização para o sexo masculino?
Em primeiro lugar, para proteger
contra os tipos de câncer que atingem homens e estão diretamente relacionados
ao HPV, como o de pênis, boca e ânus - mais de 90% dos casos de câncer anal são
atribuídos à infecção pelo vírus. Além disso, vacinar meninos reduz o risco
para a população como um todo, o que se denomina proteção de rebanho.
Há provas de que meninos ficam
protegidos indiretamente com a vacinação de meninas e, acredita-se, o contrário
também se mostra eficaz.
"Um estudo na Austrália
mostrou que vacinando apenas as meninas reduzia também a incidência de verruga
genital entre os meninos da mesma faixa etária", afirma Isabella, da SBIm.
Meninos tomam esta vacina em
outros países?
Sim, atualmente é usada nos
Estados Unidos, Austrália, Áustria, Israel, Panamá e também Porto Rico. Na
América do Sul, o Brasil é o primeiro país a implementá-la como estratégia de
saúde pública.
SEXO PRECOCE?
Alguns pais temem que a vacina
pode incentivar o filho ou a filha a iniciar a vida sexual mais cedo. Isso pode
ocorrer?
"Isso é pura hipocrisia. Tem
gente que quer tapar o sol com a peneira e prefere não falar de preservativo ou
de outros assuntos ligados ao sexo com adolescentes. Ele vai iniciar a vida
sexual dele na adolescência. Então, é muito melhor ter informações adequadas,
seja sobre preservativos ou vacinas, antes de se expor. É preciso ensinar esses
jovens sobre o autocuidado.", diz Luciana Rodrigues Silva, presidente da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
A dra Isabella concorda: "Um
estudo que acompanhou meninas desde a infância, divididas entre as vacinadas e
as não vacinadas contra HPV, mostrou que ninguém inicia a vida sexual por causa
da vacina. Do mesmo jeito que oferecer anticoncepcional tampouco influencia
nisso.".
'REAÇÕES?'
A mídia divulgou relatos de
pessoas que tiveram reações adversas ou passaram mal supostamente depois de
terem tomado a vacina. É verdade?
Ambas as especialistas afirmam
que todos eventos adversos foram ou estão sendo investigados, e qualquer
relação causal com a vacina foi descartada.
Elas lembram que muitas pessoas
passam mal ou desmaiam não pela vacina em si, mas pelo processo de vacinação.
Há quem sofra com desmaios ao ver agulhas, ao sentir dor ou se submeter a
procedimentos médicos, por exemplo. Esses desmaios leves são chamados de
síncope vasovagal. Em alguns casos, o jejum prolongado e o fato de ficar
sentado em lugares muito quentes também podem provocar os desmaios. O ideal é
ficar 15 minutos sentado antes de se levantar.
Mas e os casos de meninas que
desmaiaram na mesma escola, após a vacina?
"Pesquisei a literatura
sobre o tema desde 1972. Há muitos casos semelhantes, de desmaios em massa,
envolvendo adolescentes na ocasião de campanhas de diferentes vacinas, como
gripe e tétano. É uma característica ligada à adolescência. Quando um adulto
desmaia, por exemplo, não costuma influenciar outro adulto a desmaiar
também", explica Isabella. Ou seja, seria uma reação psicológica.
PREVENÇÃO
Basta a vacina para se prevenir
desse tipo câncer e outras doenças?
Além da vacina, a prevenção
contra esse tipo de câncer também continua envolvendo o exame Papanicolau , que
identifica possíveis lesões precursoras do câncer que, tratadas precocemente,
evitam o desenvolvimento da doença.
O preservativo não basta para
proteger contra o HPV?
Não. O vírus pode ser transmitido
mesmo com a camisinha, já que o homem e a mulher podem ter a presença do vírus
em outras áreas não cobertas pelo preservativo como as mucosas.
O governo recomenda que mulheres
entre 25 e 64 anos façam frequentemente o Papanicolau - o exame para detectar
essas verrugas e diagnosticar a presença do vírus HPV.
O beijo pode transmitir HPV?
Segundo o CDC (na sigla em
inglês, Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão do governo americano
para promoção da saúde pública), alguns estudos sugerem que as mucosas da boca,
quando infectadas, podem ser vetores do vírus durante o sexo oral e também
durante o beijo. Os resultados, no entanto, não são conclusivos. A dificuldade de
proteção dessa forma de contágio, no entanto, reforça a importância da
vacinação.
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