
Em
entrevista convocada para comentar o posicionamento da entidade sobre os temas
em debate no país, o presidente do órgão, cardeal Sérgio da Rocha, também
criticou o projeto que libera a terceirização em todas as atividades das
empresas, aprovado ontem (22) pela Câmara dos Deputados. Segundo ele, o “risco
de precarização das relações de trabalho” e de “perda de direitos é muito
grande”.
Por
meio de uma nota pública, a entidade católica manifesta “apreensão” com o
debate das mudanças na aposentadoria e pede que as contas da Previdência sejam
mais transparentes. “Os números do governo federal que apresentam um déficit
previdenciário são diversos dos números apresentados por outras instituições,
inclusive ligadas ao próprio governo. Não é possível encaminhar solução de
assunto tão complexo com informações inseguras, desencontradas e
contraditórias. É preciso conhecer a real situação da Previdência Social no
Brasil. Iniciativas que visem ao conhecimento dessa realidade devem ser
valorizadas e adotadas, particularmente pelo Congresso Nacional, com o total
envolvimento da sociedade”, dizem os bispos, no comunicado.
Os
representantes da entidade se reuniram na última segunda-feira (20) com o
presidente Michel Temer e, depois, com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da
Câmara dos Deputados. “Fomos para dialogar. Manifestamos a nossa preocupação
com os projetos que tramitam no Congresso, sobre a reforma da Previdência e as
matérias que tratam dos direitos indígenas”, afirmou o secretário-geral do
CNBB, Leonardo Steiner. As notas públicas foram aprovadas após reunião do
Conselho Permanente da CNBB, ocorrida desde a última terça-feira (21) até hoje.
Apesar
de convocarem os cristãos a se mobilizarem sobre o tema, os bispos não sugerem
uma ação direta nas comunidades. Para o cardeal, atitudes como, por exemplo,
divulgar críticas à reforma durante as missas, vão depender de cada padre.
“Queremos que esse tema seja debatido de alguma maneira nas nossas comunidades,
seja objeto de reflexão e de estudo. Mas nós não entramos em detalhe sobre as
iniciativas concretas, que deverão ficar a cargo dos bispos diocesanos e,
particularmente, das comunidades”, afirmou o presidente.
De
acordo com o comunicado, a CNBB defende que o sistema da Previdência Social
continue tendo uma matriz ética que proteja as pessoas da vulnerabilidade
social, de valores ético-sociais e solidários. “Na justificativa da PEC
287/2016 [que trata da reforma] não existe nenhuma referência a esses valores,
reduzindo a Previdência a uma questão econômica”, diz o texto. A entidade
afirma que, na proposta, o problema do déficit é solucionado “excluindo da
proteção social os que têm direito a benefícios”.
O
governo defende que a reforma da Previdência é necessária em razão do atual
déficit do sistema. De acordo com o governo, caso as mudanças não sejam feitas,
o país corre o risco de não conseguir pagar o benefício às futuras gerações.
Como
alternativa, os representantes da Igreja Católica no Brasil defendem a
auditoria da dívida pública, a taxação das rendas de instituições financeiras e
a revisão dos incentivos fiscais para exportadores de commodities. Eles pedem
ainda que sejam identificados e cobrados os devedores da Previdência.
Foro
Privilegiado
Embora
na nota pública cobrem um “número restrito de autoridades” com direito ao foro
privilegiado, os bispos não quiseram responder a quais cargos se referiam.
“Queremos oferecer a nossa contribuição questionando a atual situação do foro
privilegiado. Nossa postura é que se restrinja ao máximo, mantendo, é claro, a
proteção necessária no conjunto de uma sociedade democrática, e não criando uma
espécie de aristocracia privilegiada”, avaliou o presidente da CNBB.
Os
dirigentes da entidade justificam que o debate é necessário diante do número
crescente de autoridades envolvidas em casos de corrupção. “Calcula-se um
universo de 22 mil autoridades que estariam beneficiadas pelo foro
privilegiado. Aos olhos da população, esse procedimento jurídico parece
garantia de impunidade numa afronta imperdoável ao princípio constitucional de
que todos são iguais perante a lei”, diz o comunicado.
Para
o vice-presidente da CNBB, Murilo Krieger, mais uma vez a intenção nesse tema é
incentivar a participação da sociedade. “Não vamos dizer nem o número, nem uma
lista, porque não caberia a nós. O que a gente percebe é isso: esse número é
realmente algo que deixa todo mundo surpreso. É impossível a Justiça, os dois
Supremos Tribunais [STJ e STF], darem conta de tudo aquilo que chega a eles”,
defendeu.
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