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Foto:Divulgação |
As
campanhas de conscientização e prevenção de HIV/Aids precisam ser renovadas
constantemente para dialogar com a juventude. O tema foi debatido hoje (2) no I
Encontro Carioca de Discussão das Políticas Públicas sobre Prevenção de
HIV/Aids para a Juventude, organizado pela organização não governamental (ONG)
Centro Integrado de Estudo e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds),
na Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro.
A
gerente de Inclusão e Bem-Estar do Cieds, Aldeli Carmo, explica que, segundo
dados do Ministério da Saúde, a infecção entre jovens de 15 a 24 anos aumentou
40% de 2002 a 2014, principalmente no segmento de homens que fazem sexo com
homens (HSH). De acordo com ela, houve uma banalização do HIV/Aids, que agora é
vista como doença crônica.
Ela
disse que como tem sido vista a questão do tratamento, da medicação, acaba
tornando simples algo que ainda é muito complexo. Segundo Aldeli Carmo, não
existe aquele medo de morrer. A Aids é vista como qualquer outra doença
crônica, e o jovem não se apercebe da condição real. Ela acrescentou, contudo,
que o HIV/Aids é muito diferente de uma diabetes, uma hipertensão; "a Aids
tem uma carga de medicação muito pesada, que tem outros efeitos. Não tem a
mesma linha de tratamento e não deixa o paciente nas mesmas condições que
outras doenças crônicas”.
Diálogo
constante
Outra
expositora, a diretora executiva do Centro de Promoção da Saúde (Cedap), Kátia
Edmundo, enfatizou a importância do diálogo direto e constante com o jovem,
para que ele se envolva na discussão e descubra formas mais eficientes de
adquirir e compartilhar informações sobre o tema.
É
fundamental, no seu entender, que mais pessoas se envolvam no desenvolvimeto de
espaços de discussão com a juventude, para que os agentes de saúde possam
ampliar informações a respeito da prevenção e gerar condições para que os
jovens possam refletir sobre a própria realidade e encontrar suas próprias
formas de se prevenir.
“Como
é um tempo histórico relativamente pequeno, de 35 anos, embora a gente já tenha
avançado, a discussão não pode deixar de ser aquecid. Ela não pode ficar
esperando o Dia Mundial de Luta contra a Aids, ou o carnaval, para as ações
acontecerem. Precisa construir uma agenda de discussão da prevenção. Não
adianta falar 'faça assim ou faça assado'. Hoje tem um conjunto de tecnologias
de prevenção, cada um tem que gerenciar os próprios riscos e fazer as próprias
escolhas”, afirmou Kátia Edmundo.
Entre
os temas debatidos no encontro está a necessidade de combinação dos métodos de
prevenção. Além do preservativo, destacam-se a profilaxia pós-exposição (PEP),
com o uso de medicamentos antiretrovirais por pessoa não infectada após o
contato sexual desprotegido; a TasP, sigla em inglês para Treatment as
prevention, que consiste em testar e tratar imediatamente após o diagnóstico; e
profilaxia pré-exposição (PrEP), quando a pessoa não infectada mas com
potencial de alto risco utiliza o antirretroviral preventivamente.
Um
dos coordenadores da Rede Estadual de Adolescentes e Jovens que Vivem com
HIV/Aids no Rio de Janeiro, Reinaldo Ribeiro, mostrou sua pesquisa de graduação
em biologia, na qual levantou dados entre os jovens soropositivos para
verificar se a educação sexual recebida pode ter influenciado na infecção.
Entre os resultados, ele adverte que, se em 1989 a maioria dos soropositivos
tinham apenas o ensino fundamental, em 2016 a “cara da Aids mudou",
aumentando muito entre os graduados.
Reinaldo
disse que comparando desde 1989, tem um gap de dados de 1996 a 2016, e lança
aluns questionamentos para descobrir o que aconteceu nesse período? Quais as
mudanças que aconteceram? O que mudou que está aumentando a infecção? Foi a
educação do jovem? Sua conscientização? Falta falar sobre sexualidade nas
escolas?
Tem
jovens, segundo ele, que nunca ouviram falar de PrEP e que não sabem sequer
colocar uma camisinha. "Sabem que é importante, que precisa usar para não
engravidar, mas não sabem como por a
camisinha. Então tem muita coisa, eu acho que ainda falta didática, um jeito
certo de conversar com os jovens para falar sobre sexualidade”, acrescentou.
Projeto-piloto
Uma
ação que pôs em prática esse diálogo foi o projeto Afirmando Vozes e
Identidades, que ministrou oficinas no Complexo da Maré, zona norte do
Rio, em 2012 e 2013, para jovens gays
negros, moradores de favela. Segundo Mauro Lima, do Grupo Arco-Íris, ao
constatar que a contaminação estava aumentando, o grupo resolveu “falar com a
galera para ver como eles estão fazendo sexo”. De acordo com ele, o uso do
preservativo é visto como uma imposição desagregada das relações de maneira
prazerosa. Portanto, não dialoga com a juventude.
“Então,
essa forçação de barra que o preservativo tem implícita, faz a gente decidir
não usar por uma série de motivos: porque eu amo o cara e quero sentir prazer
com ele sim; porque estou muito drogado naquele momento; porque aquele cara é
muito gostoso e eu não quero deixar ele escapar; porque o preservativo não está
na minha gaveta ou na minha carteira no momento; ou poque eu tenho vergonha de
ir no posto de saúde buscar, porque eu ainda sou adolescente. Mas eu vou
transar de uma forma ou de outra”, explicou Mauro Lima.
Segundo
ele, o trabalho começou com autoconhecimento, com questões como “o que é ser
veado dentro da favela?”, “quais são as problemáticas que você vive dentro da
sua casa?”, “o que te dá mais prazer?”, “você sai na rua para fazer pegação de
que forma?”. A partir daí, cada um passa a entender onde estavam os riscos na
própria vida, para depois traçar um plano de vida de gerenciamento desses
riscos.
Na
avaliação de Mauro, “a pessoa precisa ter consciência da sua dinâmica sexual,
de como o seu corpo funciona, onde está localizado o seu prazer, e você poder
usufruir desse prazer tendo consciência do seu risco e adotando outras práticas
que podem, cada vez mais, diminuir sua vulnerabilidade. "O nome disso é
gestão de risco. Então, fazer a prevenção hoje não é mais só falar sobre o uso
de preservativo. Você precisa entender qual é o risco que você corre, onde você
está na sociedade, no seu meio”, afirmou.
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